quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

As poesias da vida...

Obrigada Senhor por me fazer reconhecer as poesias da vida!


Corsário - João Bosco
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Um pouco de Manoel de Barros

Manoel Barros, eis um homem que entendeu a mensagem dos passarinhos! 
Pra mim, tem gente passarinho... rs
o menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água, o mesmo que criar peixes no bolso. O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos. Com o tempo, aquele menino que era cismado e esquisito, porque gostava de carregar água na peneira, com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo. O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O menino fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor! A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou:Meu filho você vai ser poetaVocê vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos. Manoel de Barros
Passava os dias ali, quieto,
no meio das coisas miúdas.
E me encantei.
Manoel de Barros


Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água, pedra, sapo. Entendo bem o sotaque das águas. Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos, como as boas moscas. 
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. 
Só uso a palavra para compor meus silêncios.  Manoel de Barros

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