Memórias de Infância

"Não tenho saudade da infância, mas sinto falta da forma como eu encontrava prazer em coisas pequenas, mesmo quando coisas maiores desmoronavam. Eu não podia controlar o mundo no qual vivia, não podia fugir de coisas, nem de pessoas, nem de momentos que me faziam mal, mas tinha prazer nas coisas que me deixavam feliz".
Neil Gaiman

Minhas maiores inspirações vêm das crianças e da minha percepção ainda criança; de um tempo em que o olhar era puro em relação a vida e as pessoas.
Hoje minhas maiores inspirações são meus filhos, tão cheirosos com suas vozes doces e por vezes salgadas, dos olhares apaixonantes. 
Nada como suas sinceridades esmagadoras, seus ímpetos e gestos singelos...
E por causa deles aprendi a ver as outras crianças como se fosse uma extensão deles mesmos, uma dádiva do amor divino, todos os olhinhos se tornaram olhinhos de filhos no meu coração, porque aprendi a ver neles o olhar de meus próprios filhos.

A Fazenda Zé Ritinha: Uma fazenda que em minha memória ficou colorida assim, onde se resumiu o canto à alvorada, onde os risos se fundiam aos grunhidos dos porquinhos, onde o cabelo de tranças era motivo de zombarias e choros, onde meu irmão aprontava todas e mais algumas...
Para outros, apenas uma pequena e enlamaçada fazendinha. 
E depois... 
Houve tristes separações, outros lugares  e novas “fazendinhas” foram nascendo em mim. Vieram os novos irmãos, os primos e apesar dos pesares e das dores aplicadas a cada um de nós por anos de incompreensão, na memória ficou entalhado os bons olhares, os bons abraços e afagos, os afetos de alguns que a tudo sobrepuja em detrimento ao sofrimento aplicado por outros, enfim, se há de escrever, que seja para o bem, porque bom mesmo é guardar os dias bons no coração e memória...
  • Fazenda Zé Ritinha
  • Os Cheiros e Cores do dia 
  • A flor e o passarinho com a perda do vovô Tortuga
  • E o amor que vinha de trem
Desejo que possa servir de inspiração ao seu coração e que você compreenda o cuidado de Deus para com você mesmo em meio às tempestades da vida.

Como um copo d’água a um pequenino do Pai.
Silvana Jacob_2014

Os cheiros e cores do dia
Quando era criança minhas manhãs tinham cheiro fresco e barulho de passarinho.
A minha frente grandes pés de eucalipto, se pudesse dar uma cor diria que eram azuis, que seu som é era o canto dos pássaros e que o vento tinha cheiro e o frescor do eucalipto. 
Quando o vento gelado batia em meu rosto, eu olhava as árvores imensas e seus galhos dançam num céu azul, ouvia o barulho das folhinhas secas se revirando no chão e um bando de passarinhos voando acima delas. Eles brincavam e sorriam indo de um lado ao outro, faziam uma tremenda algazarra como uma turma de jovens amigos!
Eu amava o cheiro fresco daquelas manhãs!

Minhas tardes eram calorosas e reconfortantes, eram como se aquelas tardes me abraçassem! Muitas árvores fechavam o céu e por entre suas frestas passavam as luzes que brincavam de fazer flores no chão de terra batida, as folhas cintilavam num tom de cobre derretido e isso me confortava...

Ao lado das árvores havia um córrego de águas serenas e límpidas e observando bem de perto dava para ver os girinos e piabinhas, estas ao abrir suas pequenas boquinhas jogavam beijinhos em forma de bolhas e eu me divertia com tudo aquilo...
Se pudesse definir um cheiro para aquelas tardes, eu diria que cheiram a baunilha, definitivamente eram tardes adocicadas...
Quando as tarde eram chuvosas sentia o cheiro de terra molhada, olhava para o horizonte e ao ver arco-íris imaginava o pote de ouro que ele escondia.

As noites eram frias, sentia um monte de cobertor sobre mim, um peso enorme! De repente podia ouvir aquele monstro, aterrorizante e terrível que me pegaria a qualquer momento! Meu Deus, eu podia ouvir seus grunhidos e me encolhia debaixo do cobertor, mas por fim adormecia na noite fria!
Levei o que na época me pareciam anos, para descobrir que aquele barulho estarrecedor nada mais é era do que minha avozinhroncando no quarto ao lado.

Silvana Jacob_2009

O Amor
A simplicidade do amor!
Nada diz, nada cobra, nada espera
Ele apenas brinca sem maldade e um olhar que a tudo explica.


Ah! O Amor...
A primeira vez que vi o amor ele andava de trem, tinha lindos olhos castanhos e seus cabelos negros balançavam ao vento emoldurando aquele rostinho alvo e bonito e aquele vento aventureiro me deixou saudades, porque ao brincar em meu rosto não me deixou esquecer tão doces beijinhos, outrora jogados ao vento e apanhados e guardados pra sempre em mim...
A flor e o passarinho
Num dia bem azul a flor olha para cima e vê um pontinho azul quase se fundindo ao céu...
Foi quando ela conheceu o passarinho e com ele aprendeu que haveria momentos de profundo descanso e paz, momentos em que com uma forcinha ela poderia até voar!
Que às vezes a vida exigiria sacrifícios, que os desentendimentos aconteceriam, mas que também haveria o perdão e este perdão geraria neles extrema alegria.
Mas um dia ele fechou os olhinhos para sempre e partiu, para morar pra sempre no céu...
Esta perda doeu tanto na pequena flor, como se parte dela lhe fosse amputada!
E foi então que ela soube que nunca mais seria a mesma sem ele e que teria que aprender a viver com isto...

(Costumo dizer que gente parece passarinho, mas não é todo tipo de gente, tem gente que parece! Come bonitinho, sua conversa parece mais um canto, gente que dá vontade de colocar na mão e fechar pra guardar só pra gente...Tive um vovô passarinho.)

Silvana Jacob
Abril de 2012
Lá pras bandas de Goiás existiu uma fazendinha cheia de gado, porco e galinha. 
A casa de madeira com dois quartos em cima, descendo três degraus dava de cara com a cozinha; o fogão sempre aceso, cheirinho de café fresquinho e o pão de queijo quente e bem torradinho. 
Descendo mais um pouco ia pra fora da cozinha, onde havia um tacho grande e a avó ensinava a neta a fazer doce de leite e queijadinha...
Eu, ainda criança, onde tudo é tão imenso, não esqueço tão cedo a fazenda Zé Ritinha! 
Tinha jabuticabeira, mangueira e amoreira; o caju era docinho e bem ao lado um pé de pêssegos rosados e macios!
Olhando lá pro alto, havia um menino bem levado que subia na mangueira e esperava bem quietinho por algum desavisado e o pobre inocente, assoviando, ficava logo sem assovio, ao perceber que a chuva que lhe caia à cabeça não era água e nem granizo...
Xiii, daqui a pouco se ouvia a choradeira e a bainha do facão acabava com a alegria do menino bem matreiro que fazia estripulias.
E logo à tardinha debruçada na janela contemplava o sol se pôr e ali logo à frente olhava o curral e achava tudo lindo, principalmente ela, a Alvorada, pomposa, imponente e tão bela, uma vaca parda e de grandes chifres apontados e eu? Encantada na janela cantava pra ela, a vaca de pescoço comprido e de olhar altivo, sempre ali, doidinha pra me pegar!
Era passeio a cavalo, briga de menino, banho na bica d'água que de gelada gerava arrepios e gritos! 
Muita algazarra, brincadeiras e ainda havia corrida de porcos com a meninada em cima! Isso mesmo, aquele bando de crianças encima dos porquinhos gordinhos e "satisfeitinhos" com a sua  sina. 
Tudo isso acontecia na fazenda Zé Ritinha.
É, na fazenda Zé Ritinha. 

Silvana Jacob
Janeiro de 2009
Silvana Jacob_Fazenda Zé Ritinha
Sentada na Janela
Vovô Tortuga: o contador de histórias 
Silvana Jacob
(Marcelo, Nane, Lú, vovô, Naninha, Naná, Wagner e Fabiano)
Vovô era um contador de histórias e eu amava ouvir suas estripulias, enquanto a família se reunia à pequena mesa redonda e jogava seu buraco (baralho), eu ficava ali, sentada ao lado do meu velhinho. Com o tempo foi perdendo o ânimo e não falava mais tanto, mas sentada na varanda podia observá-lo contemplando o céu em silêncio, nós dois em silêncio e eu com os pés no colo dele... 
Silvana Jacob
Galinho Zezé
O rei do galinheiro!
Silvana Jacob
Gatinho Junico
Junico também conhecido como Chatonildo...
Tonho

Um porquinho satisfeitinho com sua sina...
Silvana Jacob
Vovô Tortuga
Silvana Jacob
Vovô Tortuga
O misterioso aparecimento do casco de tartaruga!
As princesas de três cabeças

A plantação de mandioca

Escondida na plantação
OS PASSARINHOS:
Os passarinhos desta casinha
A menininha Naninha
Outra versão da Naninha...

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