sábado, 7 de abril de 2012

Adeus Vovô...

Hoje às 14h:30 enterrei o vovô, fui ao seu velório para me despedir e honrá-lo.
Vovô foi um homem trabalhador e honesto, um vovô que pegava no colo, que era cheio de alegria, uma pessoa cativante, simples, aliás, simplíssimo!  O que eu mais admirava nele era a capacidade que ele tinha de discernir as pessoas e situações, de valorizar coisas que não tem preço e uma coisa eu sei, ele me amava e me valorizava!
O saldo de sua vida foi deixar corações apaixonados e com muitas, muitas saudades! Fiquei feliz de estar junto com minha família e estar presente neste momento tão triste para todos nós.
Eu verdadeiramente vou sentir falta do vovozinho e é realmente difícil expressar este sentimento, talvez se eu gritasse bem alto, eu não sei, deixo rolar uma torrente de lágrimas dentro do meu quarto só entre eu e meu Deus e uma saudade imensa com gosto de quero mais da presença dele.
Quando vi o vovô dentro do caixão não consegui identificar o meu amado e querido, a impressão era que olhava para um boneco de cera, o que mais se aproximava de sua presença foram seus dedinhos tortos devido a um acidente na juventude que fazia com que aquela mãozinha fosse única. Ah meu Deus! Quantas vezes segurei aquelas mãos que agora estavam frias e que durante grande parte de minha vida me afagaram! 
Quando Deus pede a alma e espírito resta somente a carne, por isso digo que não consegui identificar o vovô ali; sua vida, alma e espírito já não estavam lá. 
Compreendi como a vida, o fôlego que vem de Deus é tudo! É a vida de nossos ossos, de nossa carne, este corpo como um lugar para morar, uma casa que com o tempo será apenas um lugar vazio...
Deus eu posso te dizer que a vida que vem de ti é tudo. Tudo.
Lembrei-me que no hospital ele pegava minha mão e colocava entre as suas, como um conforto... 
Ah! Vovô, como o senhor vai deixar saudades! E como eu te amo! 
Ah! Vovô que saudades e vazio que sua ausência deixou em mim! 
Ah! que bom ter dito todas as vezes que te encontrava que te amava!
Obrigada Senhor pelos anos que nos concedeu a honra de termos o vovô como nosso vozinho, de amá-lo e sermos amados por ele, obrigada Deus.
Eu te amo meu velho! Até mais meu passarinho...

O vovô era um contador de histórias, como uma singela homenagem deixo abaixo registrado uma de suas tantas história (vividas por ele), este texto eu escrevi para ele em 24/01/2009

Memórias do Vovô... (Em memória - Eurípedes José Martins)

( Naquela época a  característica marcante nele eram seus longos cabelos castanhos...) 

QUARESMA

A quaresma tenebrosa para alguns, para o matuto então nem se fala...
Foi assim, num dia simples, um dia comum...
Orípe sai da fazenda com os compadres e amigos...
Hoje é dia de festa, pura alegria!
Tem sanfona, viola afinada e chão de terra batida.
As moçoilas todas bem comportadas em seus vestidos de chita, com um ruge bem disfarçado nas bochechas já coradas e um batom vermelhinho e aí a noite prometia! Prometia olhares, esbarrões, arrasta-pé, mas tudo muito bem assistido pelos pais das meninas...

Na hora de ir embora havia sempre um engraçadinho que saía mais cedo, pé por pé, bem caladinho só para assustar os que tem medo de bandido, bandido cabeludo e de dentes compridos e logo na quaresma, lua alta e cheinha, esse bandido lobisomem assustava até os mais destemidos!

- Cumpade ocê acredita em lobisomem?
- Uai, mas é claro sô, inté já vi um desses lá pras bandas da rocinha.
- Cê ta mentindo!?
- Tô não é verdade verdadeira!
- Tá certo, mas é mió mudá o rumo da prosa, vamo embora!

E de repente surge a sua frente todo cabeludo e grunhindo um bicho bem feio que o faz quase perder os sentidos!
De cabelo grande e nuzinho o Orípe salta da moita onde estava escondido e pula na frente do amigo dando alguns grunhidos...

-ÔÔÔÔ cumpapapaaaade, (fala o amigo gaguejando), -ééé oooo biiiiicho...

Cego de medo arranca o facão e corre atrás do bicho, que aos berros implora:

- “sou eu cumpade, o "Orípe", seu amigo!

Ele, aterrorizado, só consegue ver a sua frente oooo biiicho!
E leva tempo para o compadre convencer o amigo que era só o Orípe pelado e rindo, com um riso bem matreiro e já arrependido de assustar um velho amigo...

Arrependido? Acredite se quiser, pois anos depois ele conta o acontecido e não esquece até hoje do danado do biiicho.

Silvana Jacob
Janeiro de 2009

_____________________________❤____________________________
Fazendo uma pequena homenagem ao meu Avohai, (vovô), o meu lindo carroceiro, que foi a pessoa que me incentivou a escrever e a gostar de contar histórias...
Saudades e que imenso vazio que sua ausência deixou em mim.
Naquela época a característica mais marcante eram seus longos cabelos castanhos abaixo dos ombros...
(08/12/1929 - 06/04/2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário